Férias 2019 – Turcomenistão – Doshoguz – Kunya -Urgench – Uzbequistão – Khiva – 05 de junho

 

Doshoguz

Fomos de avião e chegamos bem cedo. Uma cidade grande que só serviu de passagem para irmos até Kunya-Urgench, um importante e histórico lugar que envolve os primeiros povos que colonizaram a região. Em 1221 a cidade foi considerada o “Coração do Islã”. Fica a 480 km de Ashgabat, ao norte do Turcomenistão. Após sairmos do aeroporto, andamos cerca de 80km por uma estrada sem placas de sinalização, com asfalto e acostamento ruins.

Assim que chegamos, vimos várias construções. Algumas preservadas e outras nem tanto. Lá estão o Kutlug-Timur Minarete, o Sultan Tekesh Mausoleum e o II Arslan Mausoleum, por exemplo.

 

 

A fronteira com o Uzbequistão foi nossa parada seguinte.

Depois dos trâmites locais, uma Kombi nos levou até o local onde encontramos Dill, nosso guia. Uma verdadeira aventura antes de iniciarmos a viagem pelo Uzbequistão.

É preciso visto para entrar no país e ele é dado mediante preenchimento de um formulário que é fornecido na fronteira. Depois de informações desencontradas e não muito explícitas a respeito do pagamento ou não pelo visto, falaram que não teríamos que pagar.

 

 

Uzbequistão

 

 

Visitamos 3 cidades consideradas Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO – Khiva, Bukhara e Samarkand, além da capital, Taskent.

Tudo voltou a funcionar…. chip, acesso total à internet … enfim …. conexão com o mundo!

Diferente do país anterior? Ledo engano!!!!! A comida foi a mesma. Que falta de imaginação! Parte do grupo teve um sério problema de intoxicação alimentar, o que motivou mudança no cardápio alguns dias depois e isso nos ajudou a melhorar e passar bem. Longe de deixar saudade, mas foi uma mudança de razoável para melhor.

Falam russo e uzbeque. São hospitaleiros, simpáticos e abertos, convivem bem com qualquer religião, mas o proselitismo religioso é proibido. Ele só pode ser praticado em espaços fechados. Segundo o guia Dill, há 16 religiões permitidas pela justiça e todas as cidades possuem igreja católica. Apesar de ser um país 80% muçulmano, só cerca de 40% praticam. Ao contrário de outros países, as mulheres podem rezar nas mesquitas e não há exigência de usar véu nem roupa comprida. O “kit mesquita” ficou no fundo da mala!

A bebida alcoólica é permitida, a uva é doce e o país é o segundo maior produtor de algodão do mundo. Só perde para os Estados Unidos.

A produção anual é de 2.500.000 toneladas de algodão de alta qualidade por ano. Para irrigar a plantação, foram feitos desvios de água do Mar de Aral, o que causou o que é considerado uma das maiores catástrofes do mundo provocadas pelo homem. Como há controvérsias a respeito de sua recuperação, não vou entrar em detalhes a esse respeito.

Ainda, segundo o guia, o casamento no país é monogâmico, a opção sexual tem que ser hétero e a manifestação homossexual é proibida e considerada enfermidade mental pelo governo.

Uma particularidade no quesito relacionamento, ainda vigente nos dias de hoje – mulher tem que casar virgem. E precisa provar. Só quem nasce na sexta-feira pode perder a virgindade antes do casamento. Aí ficou difícil entender …..

Outra coisa. Quem tem Mohamed no nome tem que ter outro nome.

Cabe ao Estado prover a educação primária e a secundária. Já o ensino superior é pago. Para cursar a universidade, o estudante paga cerca de 1.000 euros por área, por ano. Em todo o país a seleção é feita no dia 1º de agosto e, antes disso, os futuros universitários devem entregar a documentação referente ao curso superior pretendido.

O salário é de 600 dólares, determinado pelo estado, que cobra 26% de imposto sobre esse valor. Dá para viver no país com 240 dólares por mês.

Son é a moeda corrente e toda segunda-feira o banco determina o preço dela. Quando estivemos lá, 1 dólar equivalia a 8.400 Sons e 1 Euro valia 9.400 Sons. Como referência, 1 coca custa entre 3.000 e 5.000 Sons.

Até 2002, o Uzbequistão não oferecia nada para os turistas. Depois daquele ano, os artistas começaram a vender seus produtos e, por volta de 2016, começou o desenvolvimento do turismo no país.

Também não tinham fronteiras físicas, que só começaram a ser construídas em 2018.

No início da abertura aos turistas só existiam hotéis do governo, cuja classificação de estrelas não segue os padrões internacionais. Hoje já existem hotéis da rede privada.

No final da tarde chegamos a Khiva – https://www.britannica.com/place/Khiva – e fomos direto ao hotel – Asia Khiva Hotel – http://asiahotels.uz/en/Asia-Khiva.html, que não pertence à rede privada, faz parte de uma cadeia de hotéis que pertence à família do antigo presidente. Considerado 4 estrelas, nem de longe tem as características correspondentes.

 

 

Férias 2019 – Uzbequistão – Bukhara – 07 e 08 de junho

 

Bukhara

Fomos de avião para Urgench e de Urgench para Bukhara – https://whc.unesco.org/en/list/602/ .

Uma cidade maior do que Khiva e com infraestrutura melhor. Apesar de menor, achei Khiva mais interessante – Cidade do deserto, Bukhara foi classificada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Nela há mais de 350 mesquitas, cem faculdades religiosas e mais de 140 monumentos arquitetônicos. É o que se pode chamar de uma cidade museu.

Bukhara prosperou com o comércio da Rota da Seda tornando-se um dos grandes centros intelectuais do Mundo Islâmico. Destruída por Genghis Khan no século XIII, a cidade foi reconstruída pelos seus sucessores Turcomanos e Uzbeques, tornando-se uma das cidades mais sagradas do Islã.

Logo que chegamos, fomos passear pela cidade antes de irmos ao Edem Plaza Hotelhttps://edem-plaza-bukhara.booked.net/, onde ficamos duas noites.

 

No primeiro dia, vimos muitos prédios históricos. No segundo, aproveitamos um pouco antes de deixarmos o grupo e voltarmos para o hotel. Eu e alguns amigos não estávamos bem e achamos melhor não continuarmos o passeio.

No fim do dia, o restante do grupo chegou com alguns passando mal também e se juntaram a nós naquele mal-estar. Foi horrível. Foram quase dois dias dentro do hotel, atendidos por um médico local. Tivemos uma intoxicação alimentar muito forte e dela eu me lembro até hoje.

Não tenho muitas lembranças de Bukhara porque pouco vi da cidade. Lembro que as construções históricas são semelhantes às de Khiva.

Muito famosas em Bukhara são as toalhas Suzani, os tapetes, uma prova da forte relação com os persas, e os trabalhos feitos pelos ferreiros.

Suzani é um tecido feito desde a antiguidade na Asia Central (Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão). A origem do nome Suzani vem da língua persa e significa beleza tribal. Característicos medalhões florais e geométricos, cores fortes e marcantes foram reproduzidos nos tapetes tecidos a mão em ponto fino.

 

 

Tradicional na cidade, o trabalho mais importante dos ferreiros consiste na confecção de facas. No entanto, encantam mesmo as tesouras cegonha, com design especial para efetuar cortes arredondados. Claro que quase todos saíram de lá com a tesourinha cegonha.

 

Seguem Mesquitas, Minaretes e Madrassas, alguns lugares que vimos ou que deveríamos ter visto porque são atrações locais.

Lyabi Hauz Ensemble – Um dos mais populares pontos turísticos de Bukhara. Serve de ponto de descanso e, além de bonito, abriga uma escola, uma igreja e um hospício.

 

Magoki-Attori Mosque – Foi construída antes das invasões dos mongóis de 1219. É a mais antiga mesquita sobrevivente da Ásia Central. Fica um nível abaixo da cidade e as colunas representam um livro aberto ou dois pergaminhos. Hoje é permitido acesso mediante pagamento.

 

Chor-Minor Madrasah – Folhetos turísticos afirmam que o trabalho em mosaico inclui referências enigmáticas a outras religiões além do islamismo, incluindo cristianismo, budismo e zoroastrismo.

 

Trading Domes – Cúpula comercial, um lugar onde se pode conhecer artigos locais. Não é um shopping como aqueles que conhecemos, mas é um lugar muito interessante.

 

Perto dali fica Poi Kalyan Complex – um lugar muito bonito onde se encontram a Poi Mosque, o famoso Kaylan Minaret e a escola teológica Mir-i-Arab Madrasah.

Kalyan Minaret  – Último fragmento sobrevivente da mesquita da era Karakhanid, construída por Mohammad Arslan Khan em 1127. O topo se transforma em uma lanterna em forma de coroa. Servia para chamar os fiéis para orar cinco vezes por dia e provavelmente foi também usada como posto de correio ou farol.

 

Poi Kalyan Mosque – Reconstruída no início do século XVI depois de ter sido queimada, destruída parcialmente pela queda de parte do minarete e de outras intempéries. Sua fachada foi concluída em 1514 ou 1515. Kosh é o nome que se dá a esse estilo de construção de um edifício em frente ao outro. Essa era uma prática comum nas cidades da Ásia Central.

 

Mir-i-Arab Madrasah – Seu nome significa “Príncipe dos Árabes”. A tumba do fundador da madrassa, Mir-i-Arab, fica numa das salas localizada atrás da fachada principal. Nas outras, até hoje funciona uma escola muçulmana ou uma casa de estudos islâmicos.

 

Ulugbek Madrasah – Escola que foi reconstruída periodicamente. Somente os ornamentos celestes usados no exterior da escola foram preservados devido ao interesse de Ulugbek pela astronomia. Agora é o Museu da História de Restauração dos Monumentos de Bukhara.

 

Abdulaziz Khan Madrasah – Também faz parte do conjunto arquitetônico da Escola de Ulugbek, só que é mais bonito e luxuoso. Foram usadas diversas tecnologias para proporcionar conforto nas diversas estações do ano, em especial no verão e no inverno. Possui duas mesquitas, uma de inverno e outra de verão.

 

Ark Fortress – Antes de Bukhara ser conquistada pelos árabes, foi a residência dos governantes da cidade. Depois foi um centro administrativo e hoje é um museu arqueológico, o mais antigo de Bukhara.

 

Bolo-Khaus Mosque – Quando passamos por lá, vimos muitos homens rezando. É uma mesquita Friday Prayers. Tem um design que abriga fiéis no verão (parte externa) e no inverno (parte interna). Possui 40 pilares e cada um é formado a partir de dois troncos de árvores. Seu nome significa “Acima da Piscina”, referindo-se ao hauz octogonal ou lago artificial que fica em frente.

 

Samanids Mausoleum– É o edifício mais antigo de Bukhara. O mausoléu é extremamente importante do ponto de vista histórico da arte, pois é o primeiro exemplo de tumba islâmica a sobreviver na Ásia Central. Sobreviveu por acidente, pois ficou embaixo da lama por muitos séculos até ser redescoberto pelo arqueólogo V. A. Shishkin.

 

Chashma Ayub_Mausoleum – Fica no meio de um cemitério antigo e chegou com algumas perdas aos dias atuais. O valor histórico do monumento consiste na datação exata escrita em ktoba (1208-1209 A.D.). Ou 605 anos pelo calendário muçulmano.

 

Summer Palace of Bukhara Emirs Sitorai-Mokhikhosa – https://www.centralasia-travel.com/en/countries/uzbekistan/places/bukhara/sitorai_mokhi_khosa

Hoje é um museu onde se pode ver móveis antigos, porcelanas japonesas e chinesas, vários utensílios e uma coleção de vestidos nacionais do século XIX, decorados em ouro com o famoso bordado de Bukhara – Suzani. Era a residência dos emires de Bukhara até pouco tempo.

Foi a residência da esposa do Emir. Como ela morreu cedo, o palácio recebeu o nome poético de Sitorai Mokhi Khosa (palácio parecido com estrela e lua) em sua homenagem.

Cada concubina que chegava era colocada frente a um espelho e um efeito especial a transformava em muitas, dando a ideia de que não era a única.

O clima do palácio é diferente, nunca é quente. Esse efeito foi conseguido graças ao antigo método de localizar locais para edifícios importantes – colocar carcaças de ovinos nos possíveis canteiros de obras. O lugar ideal era onde a decomposição fosse menor.

 

Chor-Bakr Necropolis – Um conjunto de 25 construções que ocupa cerca de 3 hectares. Depois de vários estágios de construção, o memorial se desenvolveu no início do século XX quando o pequeno minarete foi construído. Foi erguido no lugar do provável cemitério de Abu – Bakr-Said, que morreu nos anos 360 pelo calendário muçulmano (970-971 DC), um dos quatro de Abu – Barkrs, descendentes do Profeta Muhammad.

 

Khoja Bakhouddin Naqsband Mausoleum – É um dos mais importantes santuários muçulmanos. Todos muçulmanos o conhecem, reverenciam e vão até lá para pedir a realização dos seus desejos e a cura para doenças. É considerado Meca da Ásia Central.

Naqshband foi o professor espiritual de Amir Temur e fez hajj para Meca 32 vezes (peregrinação dos muçulmanos para Meca). Rejeitou o luxo e apelou para as pessoas serem modestas. Sua filosofia foi baseada no princípio “Dil ba joru, dast ba kor” “O coração com Deus, as mãos em ação”.

 

Nodir Devon Begi Madrassah – Fica no centro histórico Lyabi Hauz e foi construída pelo primeiro ministro (vizir) de Bukhara, Imam Kulikhan, no início do século XVII. Suas paredes externas e internas são pintadas e, misteriosamente, há um painel brilhante na entrada no qual dois pássaros voam em direção a um sol humano, segurando, nas patas, gamos ou leitões. A parte interessante e misteriosa é que o Islã proíbe desenhar ser humano ou animal.

Lá dentro há lojas de artesanato. Músicos e dançarinos demonstram sua arte por meio de um show de 45 min. Nos intervalos, os estilistas de Bukhara apresentam suas coleções que misturam tecidos uzbeques, sedas e moda moderna. Após o show, os turistas podem comprar as roupas de que gostaram.

Se for pedida, uma refeição típica é servida. São pratos da culinária uzbeque, chás tradicionais e doces orientais.

Para mim, um dos pratos, o famoso Pilaf, foi o causador ou a gota d’água do nosso terrível desarranjo. Só de pensar nele, sinto arrepios!

Se pudéssemos ficar sem comer, o passeio teria sido maravilhoso!

 

Se observarmos as fotos, veremos que predomina a cor azul. Segundo o guia, ela representa a ligação física com o céu. Não sei explicar bem como é isso, mas são construções bonitas, que dão paz de espírito. O problema é que ficam muito parecidas e é muito fácil confundir uma com outra. Para dizer a verdade, nem lembro de tudo que vi. Parecem tão iguais!!!!

O que chama a atenção mesmo e impressiona é o número de escolas onde se estuda o Alcorão. Realmente, não dá para negar a religiosidade existente no país.

O guia nos contou um pouco sobre a história do Mar de Aral. Desastre ambiental, sobrevivência? Não vou entrar nesse mérito.

 

Essa nostalgia o levou a falar sobre a vida que tinham antes da separação da União Soviética e sobre a vida que têm hoje. Antes não podiam ter muito, mas tinham paz e tranquilidade. Hoje as coisas mudaram. Podem ter o que querem, mas…. Muitos gostariam que não tivesse mudado.

Seguem alguns registros desses dois dias….

 

Bukhara – um pouco mais…

https://www.viajarentreviagens.pt/uzbequistao/moynak-para-onde-foram-as-aguas-do-mar-aral/

https://www.dailymotion.com/video/x17p8a0

 

Férias 2019 – Ásia Central e Turquia – de 01 a 26 de junho

Férias chegando!!!!

Detalhes

Entre ler sobre os lugares, verificar tempo e temperatura, separar o que levar, arrumar mala…. uma única certeza: a expectativa é grande. E põe grande nisso.

Dessa vez o destino é Ásia Central.

Sem me aprofundar na história, muito li sobre o roteiro e confesso que não passei do ponto inicial porque parece que alguém escreveu algo e muitos copiaram o que foi escrito. Quase tudo igual!!!!

Apesar disso, estou achando o máximo ir para lá porque muita coisa será novidade e na volta poderei contar o que descobrimos nessa nova experiência.

Vou com um grupo maravilhoso, quase o mesmo de viagens anteriores, que também foram organizadas por Huang, uma amiga querida, já conhecida por aqui e a organizadora de nossas viagens para terras distantes.

Na reta final, Huang fica doidinha com a gente. Ela programa, pensa em cada detalhe …. organização, visto, passagem, seguro, alimentação, necessidades especiais, imprevistos… enfim, cabe a ela resolver tudo e, na véspera, começa o conflito sobre a bagagem.

Como existem deslocamentos internos, o peso permitido é mínimo e isso não pode ser contestado. Temos que nos adaptar à realidade. No fim, como sempre, dará tudo certo e eu espero que a gente se divirta muito, como sempre fizemos.

No trecho da Rota da Seda da Ásia Central passaremos por Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão e Cazaquistão. Como iremos pela Turkish Airlines, faremos uma parada na Turquia para conhecermos Istambul, Capadócia e algumas cidades menores.

Ao todo serão 26 dias trocando de moeda, conhecendo a cultura, experimentando sabores, falando a língua do coração e usando muita mímica.

Para situar

PAÍS IDIOMA FUSO EM RELAÇÃO AO BRASIL MOEDA 1 DÓLAR INVERSO
Turcomenistão Turcomano 8 horas à frente Manat turcomano (TMT) 3,50241 TMT 0,285517 USD
Uzbequistão Uzbeque 8 horas à frente Som Uzbeque (UZS) 8.455,28 UZS 0,000118269 USD
Quirguistão Quirguiz 9 horas à frente Som Quirguiz(KGS) 69,8505 KGS 0,0143163 USD
Cazaquistão Cazaque 9 horas à frente Tenge (KZT) 379,172 KZT 0,00263733 USD
Turquia Turco 6 horas à frente Lira Turca (TRY) 6,08353 TRY 0,164378 USD

Rota da Seda 

Quando procurei entender o que seria esse trecho, tive que entender o porquê do nome Rota da Seda.

Foi aí que me remeti ao passado e é esse pedacinho da história que coloco aqui para situar nosso trajeto.

Trata-se de uma reportagem que encontrei na Internet e que me ajudou a compreender a importância dos lugares que visitaremos na história do universo.

 “Rota da Seda: A primeira Globalização

Aberto por mais de mil anos, caminho entre o Oriente e o Ocidente uniu dois mundos incomunicáveis

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-rota-seda.phtml

Izabelle Somma

No meio da noite, dois monges e sua pequena comitiva entraram pelo portão leste de Constantinopla. A visão da portentosa capital do Império Romano do Oriente deixou todos aliviados. Afinal, depois de quase seis anos de viagem, mais de 15 mil quilômetros percorridos entre desertos, montanhas e rios desconhecidos, eles haviam cumprido sua missão. Traziam a encomenda que o imperador Justiniano em pessoa lhes havia feito.

Enroladas em cordas finas de linho, as varas ocas de bambu não pareciam pedido digno de um imperador. Mas, dentro delas, estava um dos segredos industriais mais bem guardados do mundo antigo: casulos intactos de uma espécie de borboleta, a fina matéria-prima do tecido mais cobiçado de todos os tempos – a seda.

Os monges espiões de Justiniano foram apenas mais dois entre milhões de aventureiros, comerciantes, peregrinos, soldados, reis, sacerdotes ou simples nômades sem rumo que percorreram a pé, ou em lombo de animais, o mais conhecido caminho entre o Oriente e Ocidente, a chamada Rota da Seda. O termo foi empregado pela primeira vez pelo arqueólogo alemão Ferdinand Von Richthofen, no século 19, e denomina o conjunto de caminhos que liga a costa do mar Mediterrâneo, na atual Síria, a Xiang, na China, atravessando 7 mil quilômetros entre os territórios dos atuais Iraque, Irã, Turcomenistão, Uzbequistão, Afeganistão e Paquistão.

O percurso coincide com o caminho natural que corta a Ásia longitudinalmente, margeando altas cadeias de montanhas, desertos e mares. De acordo com vestígios arqueológicos, foi o caminho das migrações pré-históricas, por onde o homem africano caminhou para a Ásia e chegou à Oceania, sempre em busca de melhores condições de caça e clima ameno. Em sentido contrário, foi a rota das migrações dos indo-europeus, as levas de homens que vieram da Ásia para dar origem aos povos semitas – como árabes e judeus – e à maioria das etnias europeias.

“As primeiras referências aos caminhos que posteriormente seriam chamados de Rota da Seda surgiram na Pérsia, no século 8 a.C.”, diz o historiador e arqueólogo Frantz Grenet, da École Normale Supérieure de Paris, França. Diferentemente dos gregos e babilônios, cuja força era representada nas cidades-estados, os persas se mantiveram nômades ou seminômades. Suas caravanas cruzavam os acidentados terrenos da região entre as montanhas do atual Afeganistão e os desertos do Irã. “A maior parte desses caminhos era conhecida há séculos pelos povos de origem persa: os sogdianos, que habitavam o atual Uzbequistão, os partas, arianos e bactrianos, do atual Afeganistão, e os aracosianos, que viviam onde hoje é o Paquistão”, afirma Grenet. Muito antes de o Império Persa existir, esses povos migratórios já comercializavam seda com chineses e vendiam seus tecidos a romanos e cartagineses em Damasco e Antioquia, na Síria. “Os caminhos abertos por essas caravanas deram origem à Rota da Seda”, diz o arqueólogo francês.

A unificação e a expansão do Império Persa, primeiro sob o poder de Ciro, depois com Dario, no século 6 a.C., deram aos persas o controle sobre um território que ia das montanhas da Grécia ao vale do rio Indo, na Índia, passando pela Turquia e Mesopotâmia. As caravanas vindas do Oeste traziam ouro, marfim e peles de animais da costa africana, cavalos e camelos da Babilônia, vinhos e ferro da Turquia.

Da China vinham a seda, perfumes e ervas aromáticas, além do almíscar tibetano. Nem a conquista do Império por Alexandre, o Grande, em 330 a.C., interromperia o que havia se tornado a avenida central do mundo. Quando Alexandre morreu, era possível trafegar do Egito ao Afeganistão, da Índia à Grécia, falando uma só língua: a do comércio.

Negócio Chinês

Para além da Pérsia, no entanto, nem Alexandre, o Grande, ousou ir. As montanhas do Himalaia constituíam uma barreira às caravanas persas, assim como os povos guerreiros do deserto de Gobi. Do outro lado, no entanto, outro grande Império já construíra sua própria rede viária. Na China, as primeiras referências a uma rota comercial com povos do Oeste indicam que, no século 2 a.C., o diplomata Zhang Qian, por ordem do imperador da dinastia Han, liderou uma expedição para fazer uma aliança com um povo indo-europeu.

“A rota de Qian partia de Xian, antiga capital do Império Chinês, e rumava em direção noroeste pelo deserto de Gobi e pelos altiplanos da Mongólia”, conta a historiadora Laura Newby, da Universidade de Oxford, Inglaterra. Para ela, o encontro das expedições chinesas com as caravanas das antigas rotas persas abriu o que hoje chamamos de Rota da Seda.

Baseados em documentos encontrados em Xian, arqueólogos concluíram que o povo encontrado pelos chineses eram os sogdianos, que haviam dominado o lado oriental da Rota. Eles eram tão influentes que, na época, sua língua era equivalente ao que o inglês representa hoje. “Ao superar bactrianos e indianos no século 3 eles passaram a controlar os dois lados da corrente, com postos na Crimeia e no Sudeste Asiático e colônias no norte da China”, diz o arqueólogo Frantz Grenet. Segundo ele, nessa época era raro alguém fazer o trajeto inteiro da rota, mesmo dispondo de montaria. “O mais comum era as caravanas se especializarem num determinado trecho e comercializarem entre si. Ao final de cada trecho, nasciam entrepostos para descansar, alimentar os animais e, é claro, comercializar mercadorias. Com o tempo, alguns desses locais acabaram se transformando em grandes cidades, como Bukhara e Samarcanda.”

O apogeu sogdiano coincidiu com o declínio da ponta ocidental da Rota. Entre o século 3 e 4, o fluxo de caravanas foi muitas vezes interrompido por falta de segurança. “O período mais perigoso foi provavelmente no século 4, quando as estradas foram bloqueadas pela migração dos hunos em direção ao oeste”, diz o arqueólogo francês.

Enquanto os bárbaros partiam para invadir a Europa e o Império Romano, o lado oriental recebia um novo tipo de frequentador: monges budistas. Os relatos que três deles – Faxian, Songyun e Xuanzang – fizeram das peregrinações entre os séculos 5 e 7 ficaram famosos e hoje são parte do ideário daquela religião. Nesse período, o poder dos budistas fazia com que as viagens dos monges envolvessem, além de questões espirituais, diplomacia e política.

Árabes e Mongóis

A hegemonia sogdiana no comércio e a budista na religião terminou no final do século 8, quando árabes tomaram a Ásia Central. A ascensão do Império Abássida (750-1258) mudou a capital muçulmana de Damasco para Bagdá, e fez desta cidade parada obrigatória para as caravanas do Oriente – causando um desvio e tanto no traçado original. O Islã passou a ser a religião dominante na Rota. Os mercadores árabes e persas (que se converteram à nova fé) sobressaíram. A produção de tapetes de lã e a habilidade dos persas com negócios puseram as cidades de Nishapur e Isfahan entre os principais pontos da Rota.

Com a metade persa se tornando muçulmana, a parte chinesa da estrada estava prestes a cair sob controle mongol. No século 12, Gêngis Khan conquistou toda a Ásia Central, o norte da China e o planalto tibetano. Para comerciantes e peregrinos, paradoxalmente, foi um dos períodos mais seguros para transitar pela rota: bastava pagar.

O líder construiu postos de guarda e mantinha tropas para patrulhar o caminho. “Se o viajante não era um inimigo de Khan, podia percorrer as estradas que o exército controlava”, diz a historiadora Merle Goldman, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. A segurança na Rota não era extensiva às cidades instaladas às margens dela. As tropas mongóis destruíram Bukhara e saquearam Samarcanda em 1220. Bagdá foi arrasada em 1258.

No extremo oeste da Rota, no entanto, o século 13 trouxe boas novidades. A Europa se reabria ao comércio, prejudicado durante séculos pela estrutura feudal e ausência de estradas. Ao contrário do que ocorreu na Europa Central, as cidades-estados italianas se mantiveram em constante intercâmbio cultural e comercial com a África e o Oriente próximo, dominados desde o século 7 pelos muçulmanos.

Da Itália, vem o mais famoso viajante da Rota da Seda: o veneziano Marco Pólo, que teria repetido, entre 1275 e 1295, a viagem que seu pai e tio já haviam feito anos antes. Segundo seus relatos, ele foi de navio até Constantinopla, seguiu para o mar Cáspio e partiu para a Pérsia. Na última parte de sua epopeia, Pólo teria ido até a China, e lá convivido com a corte do imperador Kublai Khan, neto de Gêngis. Sobre essa última escala, há controvérsia entre os historiadores.

Outro viajante famoso foi Ibn Battuta (1304-1369), do atual Marrocos. O árabe percorreu mais de 120 mil quilômetros, parte deles em trechos da Rota da Seda. Os relatos de suas aventuras estão narrados no livro Rihlah (“Viagens”). Nessa época, as guerras promovidas nos Estados mongóis por Tamerlão, um dos sucessores de Khan, frequentemente bloqueavam as estradas e o comércio. Isso foi um empurrão e tanto para que as ascendentes nações europeias se lançassem à aventura de contornar a África em busca de uma rota alternativa até o Extremo Oriente – o que os portugueses conseguiram no século 15. Muito mais baratas e rápidas, as viagens por mar colocaram fim à epopeia milenar de uma estrada que começou com pastores nômades e viu passar uma multidão.”

Assim começa nossa aventura!

Vamos passar por alguns dos lugares citados e, se não vamos desbravar rotas nem participar do comércio, vamos, sim, fazer parte da multidão que passou por lá.

Seremos mais um número? Talvez! Para mim, importa mesmo é ter mais um pedacinho do mundo na lembrança e no coração!

“Em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser conhecida.” Carl Sagan

Até a volta!